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Férias em Família e Pokemons

Foi enquanto estava preso no transito que me apercebi da avassaladora vontade que tenho em perder-me em saudades. De voltar a caminhar por locais, ruas e ruelas que me viram crescer. Voltar a sentir os cheiros e ouvir os sons que fizeram de mim o homem que sou hoje.

Nesse dia, tomei uma decisão. Vou voltar atrás e caminhar novamente nas memórias da minha infância, mesmo que tenha de voltar a jogar à macaca ou à apanhada com os meus filhos.

Chegado ao início de Setembro, pude finalmente colocar o meu plano em prática, e parti de férias tardias com a minha mulher e filhos. Na minha cabeça estava tudo planeado.

“Não só vou reviver os grandes momentos da minha infância, como vou poder mostrar aos meus filhos o quão divertido é ser criança.”

Este pensamento durou apenas as duas horas a que a viagem nos obrigou.

“Há wifi?” pergunta o mais novo mal os pés pisam o chão.

Mas porque raio precisa um pirralho de 8 anos de internet?

Bem, a resposta iria surgir mais tarde sob um grito eufórico na forma de: WOW UM PIKACHU!

Eu nem fazia a mínima ideia da existência de tal coisa, mas aparentemente havia um ali mesmo em casa.

Estas criaturinhas virtuais consumiam todo o tempo livre dos meus filhos, e estavam agora a ameaçar estragar as minhas férias também. Como iria eu mostrar-lhes o quão divertido era sair para a rua e jogar à macaca com eles? Ou às escondidas? Malditos ratos animados!

Confesso que, vergonhosamente, odiei algo de que os meus filhos gostavam sem lhes dar uma oportunidade para me convencer do contrário.

O meu ressentimento para com tais criaturas durou quase uma semana, até que ambos me pediram que eu os acompanha-se numa caça ao tesouro – eles apenas precisavam de alguém para conduzir o carro, mas o que aconteceu ninguém esperava.

Não é que é engraçado caçar os aqueles malditos malandros digitais? Não percebia grande coisa do que estava a acontecer, mas eles estavam concentradíssimos e eu… bem, eu pude apreciar a sua companhia e acabei por saltar com eles de entusiasmo quando finalmente encontramos o que procurávamos.

Depois desta aventura – que repetimos inúmeras vezes durante a semana seguinte – restou voltar para casa, atrasados para o jantar, e explicar à mãe dos meus filhos a razão pela qual nos atrasamos. Para apaziguar o seu humor, claro, uma lata novinha de COQUI.

Nestas férias descobri a verdadeira razão pela qual tenho saudades da minha infância, e esta não se prende apenas com a forma de brincar. Tenho saudades sim, mas de me deixar levar, de perder noção do tempo apenas porque me estou a divertir. Tenho saudades da despreocupação inocente que reina na cabeça de uma criança.

Continuo a não concordar com tudo o que a nova geração gosta de fazer, e Deus sabe que por mais que tente, nunca os irei compreender na totalidade. Mas admiro a forma como eles se perdem na sua própria imaginação.

Peço-lhes apenas que quando voltarem a casa, seguros e exaustos, partilhem comigo uma caneca de COQUI, e que tenham paciência enquanto me explicam a importância de apanhar 17 Pikachus o mais rápido possível.

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